Embora ainda tenhamos segundo turno em várias capitais brasileiras, os resultados do primeiro turno das eleições municipais de 2024 já apontam para um novo Brasil. Um país mais de centro-direita que de extrema-direita ou de esquerda. Em que a polarização esquerda direita ainda existe, mas está enfraquecida com uma nova disputa: extrema-direita x direita tradicional.
O Centrão, principalmente graças aos recursos das emendas impositivas, é o grande vitorioso deste pleito: governará 62% dos municípios brasileiros a partir de 2025. Liderado pelo PSD, que foi o partido que mais cresceu: já elegeu mais 216 prefeitos contra apenas 45 do MDB. Neste viés de alto crescimento aparece também o Partido Republicano, com 216 novos prefeitos.
Entre o que perderam nesta eleição, se destaca o PSDB, que perdeu 266 prefeituras. Alguns partidos da nova direita também diminuíram bastante. Leia-se PRD (criado da fusão do PTB e Patriota), que perdeu 191 prefeituras e Podemos, que perdeu 100 prefeituras. No centro, o maior perdedor foi o Solidariedade: menos 76 prefeituras.
A esquerda também amargou derrotas nas eleições de 2024. O PDT perdeu 172 prefeituras, o PV perdeu 31, o PCdoB perdeu 17, PSOL perdeu 5 e Rede perdeu duas administrações municipais. O PT, embora tenha apresentado um resultado pior que em 2020, ganhou 64 prefeituras. O mesmo aconteceu com o PSB, que ganhou 52 novas administrações municipais. Número maior que vários partidos de direita, como Avante (+ 52 prefeituras), Novo (+17) e até grandes partidos da direita tradicional, como PP (+ 45 prefeituras) e União Brasil (+10 prefeituras).
Para o segundo turno, o PL de Bolsonaro, que no primeiro turno elegeu mais 159 prefeitos, continua em vantagem em relação ao PT. O PL vai disputar o segundo turno em 8 capitais e o PT em apenas 4. PDT (em Aracajú) e Psol (em São Paulo) completam o bloco de esquerda na segunda etapa da disputa eleitoral, mas em franca desvantagem.
O balanço é que a direita se consolida na estrutura social, mas o país continua mais fisiológico que polarizado. Leia-se mais de centro que de extrema-direita ou esquerda. Além disso, estamos saindo do que Dahl chama de oligarquias competitivas para a poliarquia: o estágio máximo da democracia representativa, em que há a mais participação e competição. Assim, a polarização entre dois grupos de poder é pulverizada entre vários grupos; tanto à direita quanto à esquerda.
Prova disso é ver que houve uma derrota dos padrinhos políticos e religiosos: 6 em cada 10 prefeitos apoiados por Bolsonaro e seus seguidores foram derrotados; a bancada evangélica diminuiu no Rio de Janeiro. Por outro lado, a juventude do PT, grupo não hegemônico no partido dos trabalhadores, ganhou espaço em várias câmaras municipais; o MST elegeu 133 candidatos em 19 estados e 225 pessoas LGBTQIA+ foram eleitas em municípios brasileiros. Além disso, o PT dominou boa parte dos municípios mais indígenas, uma minoria que ganha força eleitoral desde as eleições de 2020.